Crítica do filme Memória Eterna (2023)

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Grande parte do filme foi rodado durante o auge da pandemia de Covid, o que significava que Alberdi nem estava na sala com o casal. O trabalho de câmera em muitas das cenas contemporâneas foi feito por Urrutia, que é uma esposa gentil e infinitamente paciente – e também às vezes com dificuldade de foco, não que isso importe no final das contas.

Entre os efeitos mais irritantes da doença de Alzheimer vai além da perda de memória. Muitas vezes, o sofredor não tem ideia de onde está ou o que está fazendo ali. “Onde estão meus amigos”, lamenta Góngora em um discurso de fim de noite, daqueles que às vezes podem levar horas para tirar um paciente.

Esses e muitos outros momentos são dolorosos de assistir. E eles nos fazem pensar, novamente, se alguém deveria estar observando-os. Não há narração neste filme, nenhum texto explicando quando Góngora foi diagnosticado. (Ou, por falar nisso, quando e como ele consentiu em ser filmado. Não que eu duvide que ele tenha feito – antes de sua condição piorar, ele reconhece que está envolvido em um documentário – mas seria uma informação útil.) Nós montamos o relacionamento de Góngora com Urrutia através de imagens de arquivo muitas vezes pungentes em retrospectiva. Não é até bem tarde no filme que descobrimos que Góngora tem dois filhos de um relacionamento anterior, e nunca descobrimos como esse relacionamento foi resolvido.

Em vez disso, testemunhamos a degeneração de uma mente nobre e de uma alma interrogativa. “Não sou mais eu mesma”, diz Góngora a Urrutia no final do filme. “Eu acho que você é”, ela responde. “Não”, diz ele. E ele repete essa palavra várias vezes. Ficamos com a questão do que uma pessoa pode se apegar quando tudo sobre sua identidade e valores a abandona.

Agora em cartaz nos cinemas.

Fonte: www.rogerebert.com



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