Na cozinha da casa do clã, o teimoso patriarca Quimet (Jordi Pujol Dolcet) e seu tranquilo pai idoso Rogelio (Josep Abad) discutem. O solo em que eles trabalham desde a Guerra Civil Espanhola não pertence a eles, mas aos Pinyols, ricos proprietários de terras que deram sua palavra de nunca mais roubá-los. Mas sem contrato, o filho de Pinyol decidiu retirar essa promessa e instalar rentáveis painéis solares.
A única opção de Quimet para permanecer na terra é parar de cultivar e trabalhar para manter a nova tecnologia. É um conto tão antigo quanto o tempo, de como a caminhada vertiginosa da modernidade e da ambição esmaga as antigas formas de vida. O destaque maltês do ano passado, “Luzzu”, ofereceu uma visão semelhante das desgraças de gerações de pescadores naquela nação mediterrânea.
Em meio a quadros de paisagens ensolaradas, o instinto de Simón para provocar performances naturalistas – exibido em sua estreia no longa “Summer 1993” – casa-se com uma estrutura narrativa notavelmente furtiva que nos permite entrar na vida dessas pessoas, coletiva e individualmente. A cada corte, novas informações sobre um dos membros desta família zelosa emerge em uma rotação fluida. Certas sequências na segunda metade deste drama da vida se arrastam, mas acabam encontrando seu curso para uma resolução satisfatória.
Para sua primeira saída como diretora, Simón assumiu o risco de ter um protagonista infantil sem experiência anterior em atuação. Ela expande isso em “Alcarràs”, obtendo representações vividas de comportamentos e interações cotidianas de todo um elenco de atores estreantes que, de forma quase chocante considerando seu relacionamento, não são parentes. Assim como em “Verão de 1993”, a aposta rende grandes dividendos, com Pujol Dolcet e Abad merecendo os maiores elogios.
Quanto à geração mais jovem, o interesse pelo negócio intensivo em mão-de-obra varia. Roger (Albert Bosch), filho adolescente de Quimet, sente orgulho dos frutos de seu trabalho braçal, tanto que seu pai inveja seu desinteresse pela escola. Sua irmã, por outro lado, Mariona (Xènia Roset), prefere dançar músicas modernas com os amigos. Ela se ressente da dinâmica machista que tanto Quimet quanto Roger exibem para afirmar o controle sobre as mulheres da família.
Fonte: www.rogerebert.com