O thriller ecológico de Ryusuke Hamaguchi evoca arrepios e desarmonia [NYFF 2023]

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Filmada com naturalidade, a reunião municipal traz uma riqueza de caracterizações da comunidade (o ancião defensivo, o dono de uma loja de Udon que depende da água doce para seus negócios, um membro mais jovem tentado a cometer violência física). Os aldeões estão fazendo as perguntas certas. Onde está a verdadeira liderança do projeto glamping? Por que o executivo não está lá pessoalmente? Por que mandar os peões absorverem todo o calor? Um manifestante avalia corretamente que está acelerando o projeto para cumprir o prazo de subsídios pandêmicos. O diálogo expõe a farsa total da empresa que tenta salvar a face, embora pareça inevitável que o projeto de glamping force o seu caminho.

Hamaguchi também ilustra os intermediários – a dupla de agentes, Takahashi (Ryuji Kosaka) e Mayuzumi (Ayaka Shibutani) – apanhados nas ondas enquanto o executivo do projeto fica sentado e não interage com os rostos humanos. Isso não quer dizer que a consciência dos agentes esteja intocada ou que lhes falte alma. Apesar da cumplicidade de Takahashi e Mayuzumi como engrenagens da máquina, Hamaguchi dedica um passeio de carro conversacional para humanizar suas vidas pessoais. A conversa deles evoca as conversas mais alegres da antologia “Roda da Fortuna e Fantasia” de Hamaguchi, e esse enquadramento empático sugere que cada um deles merece uma vida melhor do que existir como perturbadores da aldeia.

Mas, em dívida com seu chefe e seus contracheques, os dois agentes dirigem até a casa de Takami para lhe oferecer o cargo de zelador no local de glamping. É uma tentativa hipócrita de suborná-lo e legitimar o projeto. O encontro deles leva a uma interação reveladora. Hipnotizado pela xilogravura de Takami (replicando a abertura mencionada em plano longo e plano completo), Takahashi pede para cortar a lenha. Observamos como ele falha comedicamente em imitar a xilogravura de Takami. Então a orientação de Takami permite que Takahashi corte um pedaço de madeira com sucesso. Takahashi solta a frase mais engraçada, mas cansativa, “Isso foi bom!” como um menino privilegiado da cidade que pensa ter alcançado a catarse e conquistado a natureza de uma só vez.

Fonte: www.slashfilm.com



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